Trabalhar ou não trabalhar fora do horário?

Sou extremamente avesso a redes sociais – família e pessoas do trabalho sabem – e as poucas que utilizo são o LinkedIn e o YouTube – nem sei se esse último se enquadra nessa categoria, mas vou colocá-lo aqui para seguir a ideia.

Nelas, acompanho algumas pessoas com as quais identifico minha linha de pensamento para uma série de itens e um dos itens de maior interesse, há muito tempo tem a ver com liderança e, uma das referências que tenho para esse tema é Simon Sinek. Já li alguns de seus livros, já assisti algumas vezes o famoso Ted Talk em que ele aborda o conceito do Start With Why (Comece Pelo Porquê, em tradução livre) – aliás, o meu livro favorito do autor, que fala como poucos sobre o tema liderança de uma maneira que acredito muito – uma liderança humanizada, baseada na escuta, na dedicação ao time, no ato de servir, mesmo conceito apresentado e aplicado em um outro livro que gosto muito, O Monge e o Executivo.

Recebo alguns boletins de suas postagens e, em um dos últimos, o título era “Should you tell your employees not to work on weekends?” em tradução livre: “Você deveria dizer aos seus colaboradores para não trabalhar no final de semana? Já tive, em outra empreitada profissional, jornadas de feriados, finais de semana e madrugadas de forma contínua, o que me fez perder tempo precioso com aqueles que mais importam – minha esposa, minha família. Tempo precioso esse que jamais será recuperado. Isso sempre foi uma preocupação para mim, quando assumi cargo de gestão – preservar e lutar para que aqueles que trabalham comigo tenham seu tempo fora do trabalho preservado, já temos uma rotina extensa, a carga diária e a locomoção de ida e volta, para aqueles que não podem trabalhar remotamente. Então nunca aprovei bem o fato daqueles que trabalham comigo lerem e-mails ou mensagens nos comunicadores instantâneos corporativos e interagirem, “adiantando” atividades – o tempo pessoal para mim, deve ser preservado a todo custo.

Mas o texto aponta um aspecto interessante de análise, pelo prisma de que esse tipo de colaborador tem uma característica fundamental: ele se importa muito com o negócio. Isso é algo genuíno, intrínseco a pessoa – não pode ser dado, ensinado, pertence a pessoa. E continuamente pedir para que ele não o faça pode trazer certa desmotivação. Com base em um estudo apresentado pelo artigo, os mais felizes e engajados colaboradores gostam de, ocasionalmente, trabalhar fora de horário, então, basicamente, pedir para que eles não o façam é pedir para que eles deixem de se importar. Dessa forma, ao invés de repreender alguma atitude nesse sentido, o que deveria ser feito era mostrar apreciação e agradecimento.

Por mais que eu seja contrário, nossa rotina de trabalhos em projetos de TI acaba nos colocando nesse tipo de situação de trabalho extraordinário, em que é necessário a extensão do trabalho no próprio dia ou nos dias de descanso, fazendo com acumulemos horas e horas de banco para o desespero dos times de Rh e Departamento Pessoal. Faço questão, como líder, de estar presente nessas jornadas com o time, para apoio, direção e para assumir a responsabilidade por qualquer tema que se apresente.

Acredito que aqui, como em praticamente tudo na vida, não há uma resposta definitiva, um certo e errado, uma divisão entre bem e mal. Mas, a grande chave é para mim, nesse caso e em todos os aspectos da vida, o equilíbrio. Sem radicalismos, sem crenças radicais, sem ou é isso ou está errado. Existe aquilo que melhor funciona para cada um, desde que respeitando os limites do saudável, físico e mental de cada um, porque cada indivíduo é a essência da palavra: individual, único. E você leitor, o que acha?



4 responses to “Trabalhar ou não trabalhar fora do horário?”

  1. Maíra Fontana Avatar
    Maíra Fontana

    Em minhas atuações anteriores em outros perfis de empresa, levava essa coisa do não trabalhar fora do “horário” , muito a sério, famoso “largar a caneta as 18h”. Somente num cargo de gestão em 2011 que fui entender, que as vezes, é preciso.
    Meu líder direto assim como eu, fazia check-in no trabalho, mas logo seu dia era tomado por reuniões e quando chegava no final da jornada de trabalho ele me chamava para uma reunião de acompanhamento.
    Eu gostava daquele momento ali, era muito produtivo, mas uma coisa que me impedia de manter era a falta de flexibilidade da corporação para que eu pudesse equilibrar essas esticadas no horário. Tudo se resumia ao ponto.

    Enfim, hoje, eu sou uma pessoa que tem privilégio de poder ajustar minha agenda e meus horários produtivos, isso faz muita diferença.

    Como você disse acima, não há um certo ou errado. Precisamos equilibrar, saber avaliar e inclusive explorar novas maneiras quando estamos falando de desempenho e entregas.

    1. Obrigado pelo ponto de vista, Maíra. O grande segredo disso e todos os aspectos da vida tem a ver com o equilíbrio, a dosagem, o quanto isso interfere na nossa rotina. A flexibilidade é um bom tema de ser abordado: pessoas que não são produtivas na rotina das 9h às 18h, gostam de iniciar mais cedo, mais tarde, tem epifanias durante o período ocioso e precisa colocar a ideia para valer. Tudo tem que ser observado e mais importante, e isso valendo para os líderes: conhecer como cada um dos seus colaboradores gosta de trabalhar e equilibrar isso as necessidades da empresa. Se isso se encaixar, temos o caminho para que essa relação seja o mais saudável possível.

  2. Em um determinado momento de minha vida fui chamado de “workaholic”, vira noites trabalhando, quando não era trabalho atual era freelancer, até que percebi que gastar o período off comigo me ajudaria a ter mais energia para o meu trabalho.
    Assim mudei o foco, diminui minha carga de trabalho, deixei os trabalho extra, e aproveitei mais as noites e as folgas, porém, isso não me fez mudar o meu pensamento sobre o trabalho, estou sempre disponível para uma conversa, uma dúvida ou um suporte, posso não ter como atuar diretamente naquele momento, mas posso dar um apoio na solução de um problema, tirar alguma dúvida do cliente, auxiliar meu líder sobre a performance do time, enfim.
    Mas vejo isso como o aspecto apontado no texto, eu me preocupo com negócio, me preocupo em ter mais projetos na minha empresa, e me preocupo em fazer o meu melhor trabalho junto ao cliente. Certo ou errado, não sei, mas acredito em muitos benefícios nesta linha de pensamento, para todos os lados!

    1. O X da questão é esse mesmo, Theo. Não há certo ou errado, existe o que faz sentido para cada um desde que não prejudique outros aspectos da nossa vida. Por mais avessos ao trabalho fora do horário, existem situações de necessidade, acontece. É importante respeitar os limites, é importante o gestor acompanhar isso de perto e manter o diálogo sempre aberto com o time, para entender e apoiar no que for necessário. Obrigado pelo comentário =D

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